A Era De Ouro

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sexta-feira, 31 de julho de 2015

O guarda-roupa de Henrique VIII

O rei inglês exigia cuidados especiais com os trajes para realçar o poder de sua corte na Europa


A vida de Henrique VIII (1491-1547), o monarca inglês que fundou a Igreja Anglicana, sempre despertou atenção de historiadores, súditos e, claro, dos estúdios cinematográficos. Dos antigos representantes da nobreza anglicana, ele é um dos nomes mais conhecidos no mundo, ao lado de Elizabeth 1, sua filha. Parte de sua notoriedade se deve justamente à ousadia de ter desafiado o papa Clemente VII e ter se casado de novo, trocando Catarina de Aragão pela amante Ana Bolena. Excomungado, ele rompeu com o Vaticano e criou a nova religião. Por sinal, Henrique VIII é também famoso por seus seis casamentos e pela execução de duas de suas esposas, entre elas a própria Ana Bolena. Mas agora sua enérgica figura ganha contornos inusitados. Um livro recém lançado na Inglaterra, Dress at the court of King Henry VIII (A moda na corte de Henrique VIII), da historiadora Maria Hayward, mostra que o rei era vaidoso a ponto de contar com uma equipe firmemente dedicada a abastecer seu guarda-roupa com as peças e tecidos mais finos e luxuosos que havia no período. No caso, não se trata apenas de enriquecer o acervo do closet real. O monarca tinha a seu dispor um departamento chamado o Grande Guarda-Roupa, que abrigou cerca de 700 itens.
Vestir-se com apuro pode parecer uma característica natural da nobreza. Mas a verdade é que a coroação de Henrique VIII, à beira dos 18 anos, trouxe um ar menos conservador. Durante o reinado de seu pai, Henrique VII, a moda palaciana era mais austera. O velho rei não desperdiçava dinheiro. Muito pelo contrário. Quando o jovem Henrique subiu ao trono, houve uma profunda mudança da vida na corte. O novo monarca gostava de caça, tênis, música, dança e vinho. Era extravagante e espalhafatoso. Ao assumir a coroa, Henrique VIII aumentou as despesas com vestimentas pessoais, trajes cerimoniais, sapatos, chapéus e acessórios. “As roupas eram muito importantes para ele. Havia dias especiais em que usava roxo e escarlate”, diz Maria. O rei também estimulou o convívio da nobreza com artistas e designers, atento à bela impressão que sua suntuosa corte causaria no mundo.
Poucos anos depois, os jovens príncipes da França e da Espanha viraram reis e aumentaram o luxo palaciano, passando a concorrer com Henrique VIII. O monarca inglês incrementou ainda mais o guarda-roupa real. Para Maria Hayward, pesquisadora doTextile Conservation Centre (instituição da Universidade de Southampton que estuda conservação de tecidos), tal esmero foi uma maneira de ressaltar a supremacia de Henrique VIII entre os nobres europeus. O departamento de guarda-roupa, portanto, recebeu um papel especial. “Vestimentas têm sido estudadas como um exemplo de sistema semiótico”, aponta Maria. Em outras palavras, coube ao arsenal de tecidos, peles e forros a missão de transmitir a mensagem de que Henrique VIII brilhava mais do que os demais.
Com isso, o Grande Guarda-Roupa conquistou mais prestígio. Suas dependências ocupavam um prédio nas cercanias do castelo de Baynard, em Londres, perto do rio Tâmisa. Havia quatro pessoas que exerciam funções vitais no departamento: o alfaiate do cerimonial, o “porteiro” (uma espécie de controlador do acesso ao depósito de tecidos), o caixeiro (que mexia com o orçamento) e o mantenedor (encarregado de lidar com mercadores, comprar roupas e até cuidar para que uma peça não mais desejada deixasse de ocupar um espaço precioso). Os responsáveis pelo departamento faziam inventários tanto do material usado para fazer as roupas quanto dos acessórios, além de anotar a entrada e a saída de dinheiro.
Essas listas nortearam a pesquisa de Maria, que se dedica ao estudo dos Tudors – a dinastia de Henrique VIII – desde 1990. Os apontamentos demonstram que foram gastos quatro xelins nas “botas para futebol”. Um valor considerável. Uma babá para os meninos da corte recebia dez xelins por semana. As botas de couro, costuradas manualmente por Cornelius Johnson, em 1525, foram encomendadas porque sua majestade desejava disputar uma antiga versão de futebol, então um esporte extremamente agressivo, nada indicado para cavalheiros. Junto com o pedido, foram solicitados mais dez pares de calçados de couro e 38 pares de sapatos de veludo nas cores roxo, preto e carmim, entre outros acessórios.
As listas disponíveis não compreendem todo o reinado do fundador da Igreja Anglicana. Nenhuma das peças do Grande Guarda-Roupa de Henrique VIII sobreviveu ao desgaste dos séculos. De seu acervo pessoal restam algumas armaduras. Uma análise dos retratos do rei, no entanto, dá o tom do garbo da corte. As imagens estampam um Henrique VIII fora de forma, mas a riqueza dos tecidos, os delicados bordados nas vestes e a profusão de adereços pedras preciosas denotam que a mensagem de poder e luxo atravessou os tempos.

terça-feira, 28 de julho de 2015

Professor descobre livro que ajudou a embasar ruptura de Henrique VIII com Roma

Obra de 1495 forneceu argumentos para rei da Inglaterra romper com o Papa após casamento com Ana Bolena

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Em exposição o livro deixará de ser apenas mais uma publicação entre as milhares protegidas por um couro marrom - Steven Haywood/National Trust
RIO - Um livro que ajudou a mudar a história do Reino Unido foi descoberto entre milhares de outros enfileirados nas prateleiras da biblioteca de Lanhydrock, uma mansão em Cornwall protegida pela organização National Trust. A obra, publicada em 1495, foi usada para embasar os argumentos dos advogados do rei Henrique VIII durante o processo de anulação de seu casamento com Catarina de Aragão na década de 1530. O divórcio levou a Inglaterra a romper com a Igreja Católica em Roma.
A história é conhecida de qualquer aluno do ensino médio. Henrique VIII estava irritado porque, em sua visão, Catarina parecia incapaz de gerar um herdeiro do sexo masculino. Por volta de 1525, ele teria se apaixonado por Ana Bolena, irmã de sua ex-amante, Maria Bolena. O rei se casou com Ana em 1533, mas o Papa Clemente VII, que jamais reconhecera a anulaçao do casamento anterior, declarou que Catarina continuava sendo a Rainha da Inglaterra. Henrique VIII, então, decretou o Ato de Supremacia, no qual ele próprio se declarava o chefe da Igreja da Inglaterra.
Na época, o monarca estava atrás de teses e provas para embasar a sua busca por autonomia em relação a Roma. Trechos do livro recém-descoberto em Cornwall, que contém um resumo das teorias do filósofo e teólogo medieval Guilherme de Ockham, foram consultados pelos advogados do rei. Quem garante isso é o professor americano James Carley, especialista na biblioteca de Henrique VIII e responsável pelo achado.
“Foi um momento incrível. A velha longa galeria aqui tem o comprimento de um campo de futebol, e o professor rodou cerca de seis vezes quando encontramos o livro”, disse ao jornal "The Guardian" o gerente da casa e das coleções em Lanhydrock, Paul Holden.
O livro "escapou" de um desastroso incêndio na casa em 1881. Ficou danificado, mas ainda carrega o número 282 escrito em tinta preta no canto superior direito, que James Carley identificou como correspondente com um inventário retirado em 1542 dos mais importantes dos livros do monarca, cinco anos antes de sua morte.
Apesar de não haver nada da caligrafia de Henrique no livro, Carley tem certeza de que este foi consultado durante os anos em que o rei estava procurando desesperadamente uma maneira de se livrar de Catarina. Essa teria sido a razão para o livro de Ockham ir parar na biblioteca real. O teólogo escreveu em latim sobre os limites do poder do papa e a independência da autoridade dos monarcas. Várias páginas no livro têm passagens marcadas por secretários para chamar atenção do rei, incluindo uma seção crucial, com um título que se traduz como: “Quando é autorizado retirar-se da obediência ao Papa”.
A relíquia agora será exibida pela primeira vez como um objeto principal, em vez de mais um livro de couro marrom, entre milhares, numa exposição, quando a casa reabre ao público no dia 1 de Março.


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/sociedade/historia/professor-descobre-livro-que-ajudou-embasar-ruptura-de-henrique-viii-com-roma-15433129#ixzz3hEwYLGc9 
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terça-feira, 21 de julho de 2015

Em Londres, com Henrique VIII A capital inglesa conta, em seus castelos e monumentos, a história da dinastia Tudor, que mudou a Inglaterra e deixou suas marcas espalhadas pela cidade




Seis séculos após sua ascensão, em 1485, a história da dinastia Tudor ainda pode ser conferida nos castelos e construções de época em plena capital inglesa. Para olhos atentos, um passeio por Londres é um festival de referências históricas e culturais importantes do tempo que representa, segundo a definição de John Morrill, professor de história britânica e irlandesa da Universidade de Cambridge, “a grande conexão entre os períodos medieval e moderno”.

O início da dinastia se deu com a conquista da Coroa inglesa por Henrique Tudor, que passaria a ser conhecido como Henrique VII, na Guerra das Rosas. O embate durou 30 anos e envolveu a casa real dos Lancaster e a dos York. O primeiro rei Tudor, representando os Lancaster, venceu Ricardo III, do lado dos York, na Batalha de Bosworth Field, e assim surgiu a dinastia que redesenhou o futuro do país.

O lugar exato em que teria acontecido a batalha, porém, é motivo de discordância entre os pesquisadores. Mas ela teria se realizado próximo ao local da coroação de Henrique Tudor, em Stoke Golding, segundo depoimentos de moradores do local.

A pequena vila fica a 164 km de distância de Londres e visitantes podem, hoje, ver marcas de ranhuras de espadas nas soleiras das janelas da Igreja Santa Margarida de Antioquia. Elas teriam sido feitas pelos soldados quando afiavam suas armas, antes da luta.

Apesar de iniciar uma nova dinastia no Reino Unido, Henrique VII, no entanto, fica obscurecido quando seu filho Henrique VIII entra em cena. Vale lembrar que o rei e chefe único da igreja no país quase não chegou ao trono britânico. Isso porque seu irmão mais velho, Artur Tudor, era o próximo da linha sucessória à Coroa. Seu óbito, com apenas 15 anos, no castelo de Ludlow, deixou livre para Henrique VIII o caminho do poder.

Além da coroa, o primeiro irmão Tudor legou também a sua esposa, a princesa da Espanha Catarina de Aragão, para Henrique. Com Artur, a nobre casou-se em 1501, na antiga igreja de Saint Paul, que, em 1666, seria destruída pelo grande incêndio de Londres. No seu lugar, uma réplica em estilo barroco foi construída e o nome original, mantido.

Durante o reinado de Henrique VIII, a catedral de Saint Paul presenciou o declínio do catolicismo na Inglaterra, retomado por pouco tempo com Mary – filha de Henrique VIII e Catarina de Aragão – e novamente posto de lado com Elizabeth I – filha de Ana Bolena.

Na igreja, também está o túmulo de lorde Nelson, o comandante inglês na Batalha de Trafalgar, contra Napoleão, em 1805, a qual venceu, mas na qual foi ferido mortalmente. Enterrado com a madeira do navio francês que derrotou, o lorde leva em seu sarcófago um adorno de mármore preto feito originalmente para o cardeal Thomas Wolsey, durante o reinado de Henrique VIII, no início do século XVI. Wolsey foi um ator importante durante a dinastia Tudor, principalmente antes do rompimento da Inglaterra com a Igreja Católica. O religioso era o chanceler de Henrique, grande conselheiro político do monarca inglês e dono de muito poder e dinheiro.

Por muito tempo, foi Wolsey quem governou indiretamente o país. O fim do seu poderio chegou com a ascensão de Ana Bolena e diante do desejo de Henrique VIII de se divorciar de Catarina de Aragão, que não pôde lhe dar um filho homem.