A Era De Ouro

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quarta-feira, 19 de agosto de 2015

O Guarda Roupa de Henrique VIII








REQUINTE O departamento encarregado das vestimentas de Henrique VIII ocupava um prédio à beira do rio Tâmisa
A vida de Henrique VIII (1491-1547), o monarca inglês que fundou a Igreja Anglicana, sempre despertou atenção de historiadores, súditos e, claro, dos estúdios cinematográficos. Dos antigos representantes da nobreza anglicana, ele é um dos nomes mais conhecidos no mundo, ao lado de Elizabeth 1, sua filha. Parte de sua notoriedade se deve justamente à ousadia de ter desafiado o papa Clemente VII e ter se casado de novo, trocando Catarina de Aragão pela amante Ana Bolena. Excomungado, ele rompeu com o Vaticano e criou a nova religião. Por sinal, Henrique VIII é também famoso por seus seis casamentos e pela execução de duas de suas esposas, entre elas a própria Ana Bolena. Mas agora sua enérgica figura ganha contornos inusitados. Um livro recém lançado na Inglaterra, Dress at the court of King Henry VIII (A moda na corte de Henrique VIII), da historiadora Maria Hayward, mostra que o rei era vaidoso a ponto de contar com uma equipe firmemente dedicada a abastecer seu guarda-roupa com as peças e tecidos mais finos e luxuosos que havia no período. No caso, não se trata apenas de enriquecer o acervo do closet real. O monarca tinha a seu dispor um departamento chamado o Grande Guarda-Roupa, que abrigou cerca de 700 itens.
Vestir-se com apuro pode parecer uma característica natural da nobreza. Mas a verdade é que a coroação de Henrique VIII, à beira dos 18 anos, trouxe um ar menos conservador. Durante o reinado de seu pai, Henrique VII, a moda palaciana era mais austera. O velho rei não desperdiçava dinheiro. Muito pelo contrário.Quando o jovem Henrique subiu ao trono, houve uma profunda mudança da vida na corte. O novo monarca gostava de caça, tênis, música, dança e vinho. Era extravagante e espalhafatoso. Ao assumir a coroa, Henrique VIII aumentou as despesas com vestimentas pessoais, trajes cerimoniais, sapatos, chapéus e acessórios. “As roupas eram muito importantes para ele. Havia dias especiais em que usava roxo e escarlate”, diz Maria. O rei também estimulou o convívio da nobreza com artistas e designers, atento à bela impressão que sua suntuosa corte causaria no mundo.
Poucos anos depois, os jovens príncipes da França e da Espanha viraram reis e aumentaram o luxo palaciano, passando a concorrer com Henrique VIII. O monarca inglês incrementou ainda mais o guarda-roupa real. Para Maria Hayward, pesquisadora do Textile Conservation Centre(instituição da Universidade de Southampton que estuda conservação de tecidos), tal esmero foi uma maneira de ressaltar a supremacia de Henrique VIII entre os nobres europeus. O departamento de guarda-roupa, portanto, recebeu um papel especial. “Vestimentas têm sido estudadas como um exemplo de sistema semiótico”, aponta Maria. Em outras palavras, coube ao arsenal de tecidos, peles e forros a missão de transmitir a mensagem de que Henrique VIII brilhava mais do que os demais.
Com isso, o Grande Guarda-Roupa conquistou mais prestígio. Suas dependências ocupavam um prédio nas cercanias do castelo de Baynard, em Londres, perto do rio Tâmisa. Havia quatro pessoas que exerciam funções vitais no departamento: o alfaiate do cerimonial, o “porteiro” (uma espécie de controlador do acesso ao depósito de tecidos), o caixeiro (que mexia com o orçamento) e o mantenedor (encarregado de lidar com mercadores, comprar roupas e até cuidar para que uma peça não mais desejada deixasse de ocupar um espaço precioso). Os responsáveis pelo departamento faziam inventários tanto do material usado para fazer as roupas quanto dos acessórios, além de anotar a entrada e a saída de dinheiro.
ACERVO As roupas reais não resistiram ao tempo. De Henrique VIII restam armaduras
Essas listas nortearam a pesquisa de Maria, que se dedica ao estudo dos Tudors – a dinastia de Henrique VIII – desde 1990. Os apontamentos demonstram que foram gastos quatro xelins nas “botas para futebol”. Um valor considerável. Uma babá para os meninos da corte recebia dez xelins por semana. As botas de couro, costuradas manualmente por Cornelius Johnson, em 1525, foram encomendadas porque sua majestade desejava disputar uma antiga versão de futebol, então um esporte extremamente agressivo, nada indicado para cavalheiros. Junto com o pedido, foram solicitados mais dez pares de calçados de couro e 38 pares de sapatos de veludo nas cores roxo, preto e carmim, entre outros acessórios.
As listas disponíveis não compreendem todo o reinado do fundador da Igreja Anglicana. Nenhuma das peças do Grande Guarda-Roupa de Henrique VIII sobreviveu ao desgaste dos séculos. De seu acervo pessoal restam algumas armaduras. Uma análise dos retratos do rei, no entanto, dá o tom do garbo da corte. As imagens estampam um Henrique VIII fora de forma, mas a riqueza dos tecidos, os delicados bordados nas vestes e a profusão de adereços pedras preciosas denotam que a mensagem de poder e luxo atravessou os tempos

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